Bom, como já resenhei o primeiro GitS aqui, estava devendo a resenha do segundo filme da série, Innocence.
Lançado em 2004 e novamente escrito e dirigido por Mamoru Oshii, Innocence teve um orçamento de 20 milhões de dólares e foi co-produzido pelos estúdios I.G e Ghibli.
O primeiro Ghost foi bem recebido em vários aspectos técnicos, entre eles, sendo um dos primeiros animes a misturar com sucesso animação tradicional com animação computadorizada (quem possuir o dvd nacional pode assistir alguns making of a respeito das técnicas utilizadas). Quase dez anos depois, Innocence se utiliza novamente dessa mistura de técnicas, levando a animação em geral, tanto oriental como ocidental, para outro patamar.
Mas esses são apenas detalhes técnicos, que são facilmente perceptíveis logo na abertura do filme e saltam aos olhos. Assim como seu antecessor, o que importa em Innocence é a história e suas várias camadas.
Anos depois dos eventos do primeiro filme, Batou, junto com o seu novo parceiro, Togusa, membros da Seção 9, investigam uma série de assassinatos ligados à corporação LOCUS SOLUS, fabricante de modelos de andróides conhecidos por gynoids, que funcionam como "pleasure models". É importante notar o simbolismo dos manequins tanto em Innocence quanto no primeiro GitS (no qual há um pequeno intermission da Major em uma cena com tais peças).
Innocence até aqui soa como um filme policial. E, no fundo, realmente o é. Um policial com uma excelente história, que sempre tem aquele algo a mais que nos faz gostar do filme como um todo e o faz se distinguir de seus semelhantes, deixando a sua marca. E nesse caso, o algo a mais são os elementos cyberpunk.
Logo na abertura, e espelhando a do primeiro GitS, com direito à soberba trilha sonora composta por Kenji Kawai, vemos em magníficos detalhes o passo-a-passo da fabricação e ativação de um andróide, feita totalmente em animação CGI. Assim como no primeiro filme, essa sequência é precedida de uma pequena abertura, dessa vez com Batou e o primeiro indício da história, que dará o tom do filme.
O que se segue no restante do filme é o esperado de mais um filme da série GitS: poucas mas excelentes cenas de ação e vários "intervalos" filosóficos, nos quais os personagens principais e secundários trocam citações relevantes ao tema ou não. Algumas vezes um simples diálogo pode se tornar uma discussão pesada no tom filosófico, o que pode pegar alguns desavisados de surpresa. Até mesmo os que esperam tais cenas de um filme dirigido por Mamoru Oshii podem ser pegos off guard. Comparado com o primeiro GitS, Innocence é muito mais pesado nesse sentido, podendo desistimular o espectador mais casual. E talvez esse seja o seu maior problema. Por volta de uma hora de filme, eu mesmo tive que tirar um intervalo por que realmente fica pesado e um pouco difícil de acompanhar. Innocence não é leve nas indagações de filosofia, muito mais que o primeiro e até mesmo Avalon.
Exemplos:
E falando nesse live-action, Innocence parece muito mais uma sequência de Avalon do que do primeiro GitS, tematicamente falando. Além dos tons de sépia e amarelo usados por Oshii tanto em Avalon quanto em Innocence, ambos os filmes exploram praticamente o mesmo tema, apesar de terem resultados diferentes: o conceito de realidade. Seguir o tema do primeiro filme seria fácil demais e Oshii deliberadamente escolheu seguir outro caminho. Duas cenas que se destacam é a cena na loja e a cena na mansão. A cena da loja é requintadamente feita, com todos os seus detalhes e pompa, mas a da mansão realmente é o destaque do filme. Com exímia demonstração de habilidades de hacking, os dois personagens principais são vítimas dessa experiência que os fazem questionar o momento (o que me lembrou a cena genial de déjà vu do primeiro Matrix).
E são salvos desse labirinto por ela, como combinado antes:
O anjo da guarda da série e de Batou. Um filme da série não seria um sem a presença dela, talvez a melhor personagem cyberpunk de todos os tempos, contando tanto os filmes quanto a série Stand Alone Complex.
Após os eventos do primeiro filme, ela é dada como desaparecida e apenas Batou sabe, ou pensa que sabe, o que aconteceu com o seu paradeiro. Em Innocence, Batou ocupa o lugar de Motoko como protagonista da história, tentando se recompor e lidar com o desaparecimento da sua parceira. Togusa é atribuído como seu novo parceiro e também sente os efeitos da não-presença da Major, não sabendo como lidar com tal fato e como se equiparar à Major como parceiro de Batou.
Em paralelo, Togusa serve como alguém que o público pode se identificar (talvez o único do filme?) e Batou, mais do que nunca, é a persona de Mamoru Oshii na história, perdido no mundo depois do desaparecimento da sua personagem principal. É difícil superar tal perda, levando em conta o carisma e o peso que tal personagem tem, mas Oshii consegue com sucesso levar Innocence adiante, deixando a ausência da Major em segundo plano até mais que da metade da história, trazendo-a de volta para salvar o dia, ainda que por meios não-convencionais, que se sobressaem em uma história cyberpunk.
Reencontro:
Chegando à conclusão:
Para terminar, vale a pena assistir Innocence, quer você esteja procurando um bom policial, uma boa história, um bom cyberpunk ou apenas um longa-metragem com "gráficos bonitos". A cada filme, Oshii se supera e depois de 6 anos de seu lançamento, Innocence ainda surpreende. Mal posso esperar pelo próximo filme da série. Quem sabe explorando os efeitos do amálgama Motoko/Puppet Master no mundo? William Gibson, coincidentemente, escreveu em Count Zero (segundo livro da "Trilogia Sprawl" depois de Neuromancer) algo similiar, mas isso é assunto para depois.
Curiosidade final e que vale a pena conferir é o "Kenji Kawai's Concert 2007 Cinema Symphony", em duas partes com música do filme:
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